sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O Jesus Histórico e o Jesus Lendário

Você já aceitou Jesus como seu Senhor e Salvador pessoal? Essa pergunta sempre me pareceu um tanto inapropriada no que diz respeito à evangelização. Pelo menos com a conotação que ela adquiriu nessa chamada pós-modernidade. Aparentemente, Jesus, é uma proposta que pode ser facilmente aceita por qualquer um. Uma proposta de um crédito de vida eterna, ou de solução absoluta de seus problemas. Aceitar Jesus? Porque não? Deixar de ir para o inferno, morar em um lugar com ruas de ouro e mar de cristal, e ainda levar de lambuja todas as bênçãos terrenas prometidas para os “filhos do Rei”? Aceito fácil, aliás, só não aceita quem bobo é.
No entanto nem sempre foi assim tão fácil. Imagine o que era aceitar Jesus nos tempos de Jesus. Um dia alguém chega pra você dizendo que tem um boato rolando pela cidade de que um homem de carne e osso, natural de uma cidade insignificante de um país escravizado pelo Império Romano, filho de um carpinteiro e de uma dona de casa qualquer, nascido em uma estrebaria, teria vindo a esse mundo por uma virgem, realizava os mais diversos sinais e maravilhas, como devolver visão a cegos e ressuscitar mortos, foi morto em uma cruz, ressuscitou depois de três dias e agora estava no céu à direita de Deus, sendo juiz de vivos e mortos. Pense como era difícil, para os vizinhos do menino Jesus, que cresceram com ele e acompanharam todo o seu desenvolvimento, aceitarem o fato de que brincaram de bola com o Filho de Deus. Imagine o que foi para os irmãos de Jesus, aceitar Jesus, o irmão mais velho que levantava cedo para ir trabalhar na carpintaria do pai, como seu Senhor e Salvador pessoal. Pense na surpresa de Cornélio ao ouvir da boca de Pedro, a fantástica história de Jesus, que teria mais ou menos a sua idade se estivesse ainda na terra, e que seria nada mais nada menos do que o próprio Deus em carne. Já não era assim tão fácil. Acrescente a toda essa trivialidade, o fato de que caso, pela irracionalidade da fé, você acreditasse nisso tudo, seria perseguido e provavelmente morto a pedradas pelos perseguidores dos cristãos. Nada fácil, não é?
É fácil para nós que não temos o Jesus histórico em mente. Nós que fomos amansados pelos séculos de fundamentação teológica que trazem Jesus a nossa mente já totalmente iluminado por sua natureza divina.
No entanto, será que pelo fato de estarmos tão alheios ao Jesus histórico e alienados do mistério da sua encarnação, não acabamos fazendo de Jesus uma lenda? Será que nossas argumentações, não vêm ao longo dos anos enfraquecendo nossa fé ao invés de fortalecê-la?
Creio que muitos cristãos, por não compreenderem a dimensão da manifestação do Jesus encarnado, reverenciam a Jesus, como alguém reverencia o rei Artur e os cavaleiros da távola redonda. Histórias fantásticas, cheias de magia e mistério, linda e cheias de esperança, mas que no fundo, no fundo, duvida-se que são reais. Uma fé tão fácil que perde seu significado. Uma aceitação tão desprovida de mistério e sacrifício, que empobrece o cristianismo.
É, talvez aceitar Jesus seja fácil demais, pelo menos para nós do século XXI.

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