terça-feira, 7 de setembro de 2010

A Comunidade de Jesus

O lugar era Cesaréia de Filipe. Uma região repleta de altares a deuses pagãos. Conhecida como o berço de nascimento do deus Pan, deus da fertilidade e sede do monumental templo ao Imperador, que estabelecera para si mesmo um culto para reconhecimento de sua pretensa divindade. Nessa vitrine de altares pagãos, um Mestre conversa com seus pupilos.

- O que estão dizendo a meu respeito por aí? Perguntou Jesus.

- Estão te comparando com os profetas...o Senhor sabe: Isaias, Jeremias, João Batista… - responderam os discípulos.

- E vocês, o que acham? Perguntou novamente o Mestre.

Pedro dá um passo a frente e diz: Você é o Ungido, o Filho do Deus vivo.

Essa foi a conversa que inaugurou a Igreja. Logo após essa declaração Jesus estabelece a sua Comunidade, determinando que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela.

Não houve reunião inaugural, nem assembléia pra constituir estatuto e definir diretoria. Simplesmente uma declaração, ou nas palavras de Jesus, uma revelação.

Mas o que havia de tão especial na declaração de Pedro? Que Jesus era o Messias prometido pelos profetas? Sim, essa declaração era poderosa. Em Jesus convergia toda a expectativa profética de um Rei que pudesse libertar Israel, que embora não mais em exílio, continuava em uma espécie de cativeiro espiritual, moral, político e social, como colônia do Império Romano. Todo o Israel esperava o Messias, inclusive Pedro. E ao identificá-lo como Messias, Pedro estava declarando que sua expectativa como Judeu havia sido finalmente satisfeita em Jesus. No entanto, há algo mais contundente na declaração de Pedro. Tu és o Filho do Deus vivo. Em outras palavras, Pedro está reconhecendo Deus no homem Jesus. O mistério da encarnação é explicitado de forma esplendorosa nessa simples declaração. Em meio aos deuses dos pagãos, Pedro afirma a supremacia de Cristo como único e legítimo Deus. É exatamente essa declaração que lança os fundamentos da Igreja de Cristo.

Igreja, (ecclesia, no grego), não foi um termo inventado por Jesus. Os gregos já o utilizavam para designarem a espécie de ajuntamento solene, uma assembléia por assim dizer, para qual os cidadãos livres eram chamados para discutir idéias. “Chamados para fora” é a melhor tradução da palavra grega. Ao utilizar o termo para identificar seu povo, Jesus o está definindo como o povo que se ajunta em torno do Filho de Deus, reconhecendo sua supremacia em meio a todas as falsas alternativas pagãs. É assim que nasce a Igreja. Nasce da sua compreensão da verdadeira identidade de Jesus Cristo e conseqüentemente de sua relação com ele. A “Comunidade de Jesus”, a Igreja triunfante diante da qual o inferno não pode prevalecer é aquela que se põe diante dos altares dos pretensos “deuses” do mundo e declara em alta voz: Jesus é o Filho do Deus vivo.

É fato inquestionável que as igrejas Cristãs crescem de forma acelerada em nosso país. Pessoas chegam aos montes para se filiarem às inúmeras igrejas das mais diversas denominações. No entanto, é também um fato infelizmente inquestionável, que nem sempre os que se reúnem em igrejas, reúnem-se em torno do Filho de Deus. Muitos se reúnem em torno de promessas, de sonhos, de ideologias, ou mesmo em torno de suas próprias ambições pessoais, utilizando o evangelho (e a igreja) como mais um meio para a obtenção de seus desejos. Quando isso acontece, têm-se a “alternativa evangélica”, onde Cristo torna-se mais um dos muitos “deuses” adorados nos mais diversos “altares” das colinas de nosso Brasil.

A Igreja de Cristo carece de uma afirmação de sua identidade. Quem somos primariamente? A comunidade dos que se reúnem aos domingos? Dos que carregam a Bíblia debaixo do braço? Dos que cantam lindas canções? Dos que reúnem multidões em eventos de grande porte? Dos que apregoam valores morais? A comunidade que cresce assustadoramente e ganha cada vez mais força social e até mesmo política? O que nos define? O que, ao longo dos anos, tem construído nossa identidade? O que dizem os homens que somos?

Só uma declaração. Nada mais. Um só entendimento foi necessário para que Jesus lançasse os fundamentos de sua Igreja. Ele é o Filho de Deus. E nós somos o povo que se ajunta de todos cantos, de todas as camadas sociais, de várias histórias de vida, de toda raça, tribo, língua e nação, em torno do Filho de Deus, para ouvi-lo e sermos transformados por ele. Ele é o centro. E onde ele é o centro, aí é a Igreja.

 

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