terça-feira, 3 de junho de 2008

Escala de Cinza

Boa parte das abordagens pastorais evangélicas concentra-se na problemática do pecado. Líderes sinceros preocupam-se em manter santo o seu rebanho na medida em que lutam implacavelmente contra o pecado e o impulso do mal em seus próprios corações. Outros líderes, já não tão sinceros, apontam indevidamente o pecado em seu povo, disfarçados de profetas, esquecendo-se da obscuridade de suas próprias vidas. De uma forma ou de outra, o dilema do fruto proibido ocupa um papel central em nossa espiritualidade.
A compreensão que nos é transmitida tem em geral uma conotação moral. As definições mais clássicas de pecado lidam com as ações que constituem transgressões da lei de Deus, e por isso, são passíveis de punição. Emprestamos a plataforma jurídica para compreender e julgar o pecado sob a perspectiva da moral e da ética. Dessa forma o pecado é visto como algo que vem de fora, ou é evidenciado fora do ser. Ao lidarmos com a questão dessa forma nos sentimos mais seguros em identificar o pecado e suas diversas formas, classificando os comportamentos pecaminosos usando seus pseudônimos: adultério, mentira, assassinato, etc.
Talvez a maior justificativa para esse tipo de abordagem seja a maneira como fazemos a leitura da origem do pecado na Bíblia, bem como da maneira pela qual Deus lidou inicialmente com a questão. Vemos no jardim um ato de transgressão de uma ordem clara de Deus: “Não comerás do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal”, e logo em seguida uma punição direta: a expulsão do jardim. Para olhares menos cautelosos, parece ser uma questão moral. No entanto, ao avaliarmos a questão sob a perspectiva da mensagem bíblica como um todo, veremos que o pecado não é um problema moral e sim relacional.
Quando a humanidade tomou posse do fruto proibido não estava somente transgredindo uma lei, estava rompendo um relacionamento. Estava rejeitando a Deus como Deus e escolhendo ser deus para si. Ao tomar da árvore do conhecimento do bem e do mal, o homem não estava somente assumindo tal conhecimento, mas estava acima de tudo assumindo para si a prerrogativa de julgar o bem e o mal. Ao deixar de confiar em Deus para tal tarefa, o homem se torna juiz de si mesmo, e a bagunça começa. O pecado então, não se localiza fora do homem, sendo caracterizado por suas ações, mas tem sua raiz no seu próprio coração, sendo fruto da quebra de um relacionamento de amor. Isso complica um pouco mais as coisas. Uma vez que o pecado não é algo que se localiza fora do homem, mas no mais íntimo do seu coração, já não é tão fácil classificá-lo nem mesmo identificá-lo. Quando algo está do lado de fora, temos uma visão panorâmica que nos permite definir, classificar e julgar com certa facilidade. Mas quando se trata de uma questão interior, as coisas nos parecem muito mais ambíguas e nebulosas do que pensamos. O que é preto e branco fora de nós, dentro de nós é uma gigantesca escala de cinza.
“Ainda mais frustrante do que o fato da existência, do poder e da tentação do mal, é o fato de ele florescer disfarçado de bem, que ele pode alimentar-se da vida do santificado. Parece que, neste mundo, o sagrado e o profano não existem separados, mas são misturados, inter-relacionados e confundidos um com o outro. É um mundo em que os ídolos podem ser ricos em beleza, em que a veneração a Deus pode ser tingida pela iniqüidade” (Abraham Joshua Heschel)
Um grande engano ao qual os mais piedosos são expostos é o de lidar com o pecado na arena da moral, combatendo suas expressões mais evidentes, enquanto ele se esconde aconchegado no coração. E no coração, a sede das motivações, o pecado tem o poder de contaminar todas as ações, até mesmo as mais nobres. Uma ação nobre com uma motivação corrompida é mais perigosa do que a ação imoral. Porque esta está patente aos olhos e mais próxima do arrependimento enquanto aquela é refugiada pelo invólucro da aparência de piedade. Separar o santo do profano não é uma tarefa tão fácil assim, quando os dois se misturam na fonte das fontes da vida.

Vale a pena checar a si mesmo, de novo...

6 comentários:

M.D.Metanóia disse...

Mastiiiiiiiiiii...
ooooi!
Eu ainda te leio, viu!?
É sempre bom ler coisas desse tipo.. e ao mesmo difícil!
Espero que a frase final seja a vontade de todos que te lerem belê?!
Em mim.. ela deu certo! Vou me checar DE NOVO!
bjo

Anônimo disse...

É realmente interessante entrar aqui e ler textos como estes que fazem pensar, e com toda certeza essa questão do checar vai além, as vezes é dificil ser sincero consigo mesmo, mas tudo isso é necessário.
Boa semana, que Deus continue te abençoando cada dia mais.

The Locksmith disse...

rs fazia tempo que não parava para analisar as minhas ações... Acho que nós nos acostumamos tanto a viver da forma que vivemos que em nosso comodismo nos envolvemos em uma zona de conforto em que tudo está certo porque começou certo e nos desvirtualizamos em conseqüência disso, é estranhamente complexo analisar o pecado como algo tão tênue com a bondade, mas é a verdade não é?! rs

Muito bem escrito como sempre Mateus, abs.

JOVENS RESTAURADOS!! disse...

Ola Pastor!
Tudo bom??

Parabens pelos seus posts quao grande sabedoria e conhecimento.Fiquei impressionado!
Que Deus te use cada dia mais e mais!

Abraçao!!

Anônimo disse...

Mastor Pateus!!! rs
Queria dizer que gosto muito de sempre encontrar uma palavra show de bola aqui no seu Blog..
Check up é sempre bom mesmo e os sinais de alerta que Deus nos da para fazer isso sempre é muito palpàvel!
a definiçao do pecado de nao ser somente uma transgueçao de uma lei mas um rompimento de um relacionamento faz eu parar pra pensar!!!
q as vezes as coisas mais obvias sao aquelas que nòs esquemos mais rapidamente!
Um abraçao.
Saudades...

Cinthia Paiva disse...

Pr.

"Uma ação nobre com uma motivação corrompida é mais perigosa do que a ação imoral."

Isso falou td .
Que Deus cont. se revelando através
da sua vida !
Deus abençoe
vou estar sempre por aqui

 

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