quarta-feira, 19 de março de 2008

A sabedoria de não saber


Desde o iluminismo, movimento intelectual proeminente no início do século XVIII, a razão tem sido celebrada como a mais importante das faculdades humanas. Essa celebração é justificada pelos resultados, tais como: aprimoramento da educação, desenvolvimento científico e tecnológico, avanço da medicina, e outras coisas mais, tudo alcançado pela sede de conhecimento do homem que um dia ficou insatisfeito com a própria ignorância. No entanto, um contraponto desse racionalismo todo é o fato de que uma vez que sentiu a sensação de poder que o conhecimento proporciona, o homem se recusou a não saber. Tudo carece de explicação, pois o cérebro humano se consolidou como o instrumento absoluto do saber. A dimensão do mistério foi ignorada e tudo se resumiu ao universo concreto que está ao redor da humanidade.
Essa pretensão atinge até mesmo a espiritualidade. Quando nos deparamos com algo que não entendemos, nos recusamos a permanecer no estágio da ignorância e exigimos explicações celestiais. E aí surgem as conjecturas que nem sempre são inofensivas. Ao passar por uma experiência de sofrimento, cheguei a um questionamento. O que Deus está fazendo? A partir dessa pergunta me surgiram três possibilidades:
Ele está fazendo tudo. Ele é responsável por absolutamente todos os detalhes do meu sofrimento, arquitetando cada peça do complexo emaranhado em que estou vivendo.
Ele não está fazendo nada. Deus não é responsável por minhas dores, nem tampouco tem qualquer participação nisso. Ele não produziu nem permitiu absolutamente nada. Simplesmente aconteceu.
Ele está fazendo alguma coisa que eu não entendo. Deus está agindo em minha história e contempla de alguma forma meu sofrimento. Algo em mim está em evidente transformação, mas não consigo de forma alguma compreender os processos de envolvimento de Deus em meus dilemas.
Preferi a terceira alternativa. E descobri isso em oração. Depois de inquirir a Deus por horas, sem obter resposta alguma, continuei navegando no mistério, sem entender absolutamente nada, mas com a certeza de que depois de passar por tudo aquilo tendo Deus ao meu lado, algo em mim havia mudado. Ainda não tenho explicações, mas sei que sou outro. Creio que foi essa a sensação de Jó, que sem obter resposta alguma acerca de seu sofrimento, diz: “Falei do que não sabia” e chega à bela conclusão: “Agora meus olhos te vêem”.
Para os racionalistas de plantão essa resposta não é aceitável. Aparentemente, a mente humana evoluiu tanto que não consegue conviver com o mistério. Sabemos tanto que exigimos que Deus se explique. Mas que sabedoria é essa, que mesmo sendo constantemente desafiada pelo infinito não se rende? Que mesmo contemplando os astros no céu e a grandeza do universo, não é sábia suficiente para reconhecer que existem dimensões onde a lógica humana não se aplica?
Sinto-me confortável em não saber. Sinto-me seguro em não entender tudo. Alegro-me no mistério. Deleito-me nessa ignorância. Porque se entendesse tudo, estaria acima de Deus, ou pelo menos no mesmo nível que ele, e então, não teria a quem recorrer.
Os pós-iluministas que me chamem de covarde, eu chamo isso de fé.

2 comentários:

Thiago Mendes disse...

"O homem está sempre disposto a negar tudo aquilo que não compreende."
Blaise Pascal

Talvez esse seja o grande problema, mais estou contigo Pr. Matheus...não creio que crer nos mistérios de Deus seja covardia, prefiro chamar de Fé...
abraçp

Juliane Oki Carraro disse...

Acredito que possuo essa sabedoria!

"Ainda não tenho explicações, mas sei que sou outro."

Não consigo entender claramente o que está acontecendo, o que exatamente está mudando ou o por quê da mundança. Sei que Deus está me transformando, me ensinando, me moldando.
Ainda não sei o que é exatamente, mas sei, que nesse pouco tempo exposta a grande mudanças e radicais decisões, sou outra!

Viver os mistérios de Deus, caminhar sem saber para onde...
Deixar o Espírito Santo me conduzir sem questionar, está sendo novo...

Mas me entrei...

Agora só posso fechar meus olhos e confiar Naquele que faz infinitamente mais do que pedimos ou pensamos!

Deus abençoe!
Bjss na Rê e no Mateusinho.
Amoo vocês!!

Jubyss

 

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