sábado, 29 de setembro de 2007

Graças a Deus pelo livro de Jó.


É inevitável. Qualquer cristão que passe por um período de sofrimento, adversidade intensa ou alguma espécie de privação, se lembra do livro de Jó. Ele está ali, estrategicamente posicionado entre os relatos obviamente históricos de Esdras, Neemias e Ester, e os livros declaradamente poéticos como Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão. Os estudiosos o classificam como integrante do segundo grupo, os poéticos, mas a verdade é que Jó é uma história em forma de poesia, ou seria uma poesia de conteúdo histórico? De qualquer forma, trata-se de fatos reais, acontecidos com um homem real, e contada de forma maravilhosamente poética. No entanto, a beleza da construção literária não disfarça a intensidade do drama da história. Um homem reto, justo, temente a Deus e que se desviava do mal, subitamente em questão de horas, perde tudo o que tem em uma sucessão de tragédias sem paralelos nem na história, nem na poesia. Toda a dramaticidade dos eventos suscita na mente de qualquer leitor a mesma pergunta que incomoda a todos, desde ateus a teólogos: Por que coisas ruins acontecem a pessoas boas? Obviamente os ateus saem com a resposta mais digerível. Acontecem porque nada nesse “mundo sem Deus” faz sentido. Se não há Deus, não há razão, nem motivo, nem explicação, nem propósito. Para eles, caso encerrado. Mas para nós que insistimos em crer em Deus, aquilo que a pós-modernidade tem qualificado como o grande “delírio”, resta-nos continuar debatendo infinitamente essa questão impertinente.
Alguns dizem que as respostas de Jó não podem ser levadas em consideração, por não se provarem enquanto registro histórico. Nunca se pôde provar a existência de um homem sofredor chamado Jó, que na cronologia bíblica seria anterior até mesmo a Abraão, portanto, o livro é muitas vezes ignorado como sendo uma espécie de metáfora divina, um jeito arranjado de explicar o dilema da existência de Deus frente à dura realidade do sofrimento. No entanto, Jó não é um livro de respostas. Deus não se explica, nem se justifica, nem relata qualquer plano oculto que se desenrolava sigilosamente no sofrimento de Jó. Tudo o que sabemos, é que satanás desafia o próprio Deus a respeito do caráter de Jó, e que Deus permite que Jó prove o contrário. Mas seria muito cruel, entender que Deus usara seu servo como uma espécie de marionete em suas mãos somente para ganhar uma aposta com o diabo. Não! Apesar da grande demonstração de fidelidade de Jó ao não permitir que seus lábios pronunciassem qualquer blasfêmia contra Deus, envergonhando com maestria a satanás, não creio que todo o sofrimento de Jó se explique somente como uma grande jogada celestial. Deus não precisa provar nada ao diabo, e certamente não usaria seus filhos para tal fim. Mas o livro está lá. Sem respostas. Mas pense na vida sem ele. Pense o que seria de nós, se não tivéssemos como referencia a bela história desse homem de Deus. Sem o relato do homem justo que sofreu e não blasfemou, que força se encontraria em nosso meio, onde não há um justo, nem um sequer? O que seria de nós sem o brado contundente do pai que sem filhos, clama: “O Senhor deu, o Senhor tomou bendito seja o nome do Senhor”? O que seria de nós sem a proclamação de uma teimosa esperança: “Eu sei que o meu redentor vive e por fim se levantará sobre a terra”? O que faríamos sem a declaração de amor e dependência incorruptíveis de um homem que declara: “Ainda que ele me mate, nele confiarei”? O que faríamos sem a mais bela de todas as declarações de um sofredor que do meio da calamidade clama: “Antes eu só te conhecia de ouvir falar, mas agora meus olhos te vêem?”.
Enfim, precisamos do livro de Jó. Não para obter respostas às nossas perguntas, mesmo porque nossa fraqueza humana não nos permitiria compreendê-las. Mas precisamos do livro de Jó para nos identificar com alguém que sofreu, lamentou e se aproximou de Deus a ponto de vê-lo com seus olhos. Precisamos das palavras soberanas do Deus que conversa com Jó de Criador para criatura. Precisamos de um Deus que não responda nossas perguntas com justificativas (mesmo porque se ele precisasse se justificar, não seria Deus), mas responde com sua companhia soberana que consola e restitui a seu tempo. Graças a Deus pelo livro de Jó. Sem ele a vida seria insuportável. Talvez resida aí mais um dos propósitos ocultos do sofrimento de um justo. Tornar o sofrimento de outros um pouco mais suportáveis e ajudá-los a encontrar o caminho até à face de Deus. Que bom que Jó está na bíblia. E que bom que está estrategicamente posicionado antes das orações e louvores dos Salmos. Pois somente quem sofreu, aprendeu a orar. E somente quem sofreu, aprendeu a louvar.

A Deus seja a Glória.

4 comentários:

Rosana Garcia disse...

Com certeza , somente quem sofreu aprendeu a orar ...
Graça e Paz Pr.Mateus ..

Juliane Oki Carraro disse...

Porque "Deus nos transforma enquanto somos transtornados."

São os nossos sofrimentos, dores que nos aproximam dEle!

Porque é quando somos nada, Ele se torna o nosso tudo. A nossa esperança!

"Óh dor bendita, que me instiga a Te buscar mais!"

Ótima semana na presença de Jesus!
Bjss

Unknown disse...

Graças te damos, oh Pai, pq sabemos que existiu alguém com o coração temente a Ti, e por meio de seu sofrimento, tem ajudado-nos diariamente a "compartilhar" momentos que parecem de dores intermináveis, desertos e lágrimas ... com a consciência de que Deus está presente em meio aos vales, torcendo em nosso favor e que, por fim, poderemos encontrá-lo e "vê-lo com nossos olhos".

Que Deus os abençoe!

Anônimo disse...

pastorzão

parabéns pelo blog
tenho sido alimentado constantemente, o comentário sobre Jó é simplesmente fantástico.
grande abraço,
Pr. Achilles

 

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