domingo, 18 de outubro de 2009

Loja de Brinquedos


Um dia desses levei meu filho de dois anos e meio em uma loja de brinquedos. Em um acesso de rara generosidade paterna disse a ele antes de entrar na loja: “O Papai vai comprar o que você quiser!”. Só depois de ver o brilho de excitação nos olhinhos do meu pequeno que me dei conta da loucura que havia dito. No mesmo instante, uma imagem do meu apertado orçamento familiar tomou conta da minha mente. Mas o fato é que eu já havia dito e tudo o que eu podia fazer era torcer pra ele escolher algo não muito caro, e é claro, tentar bloquear sua visão toda vez que ele se aproximasse de algo grande ou colorido demais.

Então veio a surpresa. Meu filho veio correndo na minha direção com um sorriso fantástico no rosto dizendo: “Achei, Papai! Quero esse!”. Quando olhei, meio que sem querer olhar, me deparei com um carrinho minúsculo que não deveria custar mais do que R$ 10,00. Confesso que fiquei aliviado, mas ao mesmo tempo um pouco inconformado. Obviamente não queria gastar uma fortuna em um brinquedo, mas o levei ali porque queria agradá-lo, recompensá-lo, marcar a vida dele com um desses brinquedos que a gente nunca esquece, quem sabe convencê-lo um pouco do meu amor e ser “o melhor pai do mundo”.

Insatisfeito, comecei a mostrar outros brinquedos. Conferindo primeiro a etiqueta do preço e percebendo ser acessível ao bolso, mostrei incansavelmente uma porção de brinquedos das mais diversas cores e tamanhos. Enquanto mostrava, meu filho continuava agarrado ao carrinho. Depois de alguns minutos tentando convencê-lo, ele olhou pra mim com certa reprovação e disse: Papai, eu quero esse!

Foi então que percebi mais uma dessas características pueris que perdemos à medida que “crescemos.” O senso de valor de meu filho ainda estava intacto. As coisas ainda tem valor pelo que elas representam pra ele. Ele ainda não foi suficientemente contaminado pelo espírito consumista de nossa época que atribui valor às coisas pela opinião alheia, ou pelo visual atraente, ou pela imponência da marca. Pra ele, as coisas são valiosas na medida em que elas o tocam de alguma forma. Mais tarde reparei que o carrinho era um personagem do seu desenho favorito. Quando ele olhava pro carrinho, lembrava do desenho, e isso era suficiente pra fazê-lo feliz. Entendi também que minha tentativa de fazê-lo perceber meu amor por ele pelo tamanho do presente não fazia sentido. Porque meu amor se faz real em minha relação com ele, na maneira como toco seu coração.

Fiquei pensando mais tarde, quantas coisas já desejei que depois de pouco tempo perderam seu valor. Na verdade não perderam, simplesmente nunca tiveram valor. Fiquei pensando que na maioria das vezes, escolhemos as vias erradas para atribuir valor a coisas e pessoas. Quanto vale? Quanto custa? O que vão pensar de mim? Quantos vão querer ser como eu? De que forma isso vai ajudar na minha aceitação? Que vantagem tenho em andar com tal pessoa? De que forma ela pode me ajudar?

Todas essas perguntas são expressão de uma realidade infeliz: nós crescemos. Crescemos pra ser os filhos maduros que foram expulsos do jardim. Crescemos porque ouvimos alguém nos convencendo de que poderíamos ser mais do que o que Deus nos criou pra ser. Crescemos porque ouvimos alguém dizer que nós poderíamos ser deuses. E desde então, já não temos a inocência de atribuir valor aquilo que nos toca. Não conseguimos mais ver as pessoas além do que elas podem fazer por nós. Não conseguimos mais acreditar que Deus nos ama, a não ser que ele nos dê aquele presentão que sempre sonhamos ter.

Fico imaginando se Deus nos levasse a uma loja de “brinquedos”. E se antes de entrar na loja dissesse: “Escolhe o que você quiser”. Na loja teria prateleiras e mais prateleiras repletas daquilo que todos chamam de “bênçãos”: carro do ano, casa na praia, promoção no emprego, salário gordo, casamento maravilhoso, enfim, tudo o que alguém pode desejar. Como iríamos reagir?

Agarraríamos com unhas e dentes tudo aquilo que nos enche os olhos? Esperaríamos pra ver onde as outras “crianças” iriam e correríamos atrás? Ou quem sabe, se algo de puro fosse encontrado em nosso coração, procuraríamos a oferta da Graça: o bebê na manjedoura, o homem da Cruz, e diríamos: Pai, eu quero esse!

Quero aprender a querer. Quero aprender a desejar. Quero ser reformado em minhas intenções pra ambicionar aquilo que realmente é importante. Quero atribuir valor como o Pai atribui. Quero ser feliz por sentir o seu amor nos presentes mais sutis que me são concedidos a cada manhã. Quero amar o que ele ama, e me contentar em ser ainda que não possa ter. Quero perceber que nada pode ser mais valioso do que eu já tenho. Pois não há nada que Deus possa me dar, que seja melhor do que o que ele já me deu.

Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu SEU FILHO UNIGÊNITO para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3:16)

 

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