quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Eu te amo em Cristo Jesus


Quase todas as formas de liturgias em uso nas igrejas evangélicas – pelo menos naquelas que tenho visitado – prevê o uso do tão famoso: “Eu te amo em Cristo Jesus”. Essa prática, embora um pouco desgastada, ainda gera um clima agradável em nossas comunidades e de alguma forma nos faz lembrar que estamos adorando a Deus juntamente com outras pessoas e que a espiritualidade cristã não é uma prática a ser desenvolvida na solidão do indivíduo, mas na coletividade do corpo. No entanto, não se pode negar a desconfiança subconsciente que permeia a mente de alguns de nós em relação à veracidade de nossas declarações. Quem nunca se sentiu um tanto desconfortável quando o dirigente do louvor propõe esse momento de comunhão, e a primeira pessoa para quem seu olhar se dirige é exatamente aquela com quem você tem tido problemas relacionais? Ou quem nunca teve uma discussão tempestuosa com o cônjuge minutos antes de sair de casa, e nessa hora do culto volta-se rapidamente para o lado oposto de onde ele ou ela esteja para evitar o (des)concerto? Esses momentos da prática evangélica muitas vezes nos confrontam com nossa dificuldade em realmente viver o que alardeamos com nossos lábios.
O que significa amar no amor de Cristo? Podemos entender essa declaração de algumas formas. Poderíamos dizer que amar no amor de Cristo é amar alguém como Cristo o ama, e aí temos um grande problema. Esse é o padrão para o amor entre marido e esposa conforme proposto pelo apóstolo Paulo em sua carta aos Efésios, e os casados que o digam...não é nada fácil. Amar de forma sacrificial e abnegada, sem esperar nada em troca, devotando sua vida para o bem do outro sem pensar em si mesmo, não é, digamos, moleza! Mas isso considerando a proximidade entre marido e mulher. Agora, pense em dizer isso para aquela pessoa com quem você não só não escolheu passar o resto da vida junto, mas também prefere não passar muito tempo junto.
Quem sabe então poderíamos dizer que amar no amor de Cristo seria amar através de Cristo. Talvez tenha melhorado. Partindo do principio de que não posso amar, mas digo que amo porque Cristo o ama. Mas isso me parece um pouco forçado. É como dizer: “Olha, eu não te suporto, mas como Cristo te ama, eu faço um esforço de dizer que te amo também”. Parece-me um desses jeitinhos brasileiros que damos na fé cristã reduzindo-a levianamente a algo mais ajustável a mediocridade de nossos sentimentos.
Então o que faremos? Como continuar dizendo essas tão profundas palavras sem hipocrisia? Depois de avaliar algumas coisas que aconteceram comigo, creio que cheguei a uma conclusão satisfatória, pelo menos pra mim.
Não sei se isso já aconteceu contigo, mas algumas vezes conheci pessoas que por menos tempo que tivesse de convivência com elas, passei a amá-las de todo coração. É claro que não as conhecia a fundo (talvez isso até tenha ajudado) mas algo nelas pulsava em conformidade com os ritmos do meu coração. É como se tivesse conhecido alguém que tivesse o mesmo sangue que eu, o mesmo pai que eu, e por causa disso uma misteriosa conexão se estabeleceu entre nós. Essas raras eventualidades me mostraram uma coisa. Esse tipo de amor misterioso e sublime que se estabelece com o mínimo relacionamento, não é uma superficialidade hipócrita, mas o misterioso amor da cruz. É o amor que vem de Deus, por meio de Cristo e nos habilita a amarmos aqueles que não conhecemos. E por que? Porque de alguma forma nós nos conhecemos. Conhecemos o Cristo que habita um no outro. Pra mim, “Te amo em Cristo” é o mesmo que dizer: “Eu amo Cristo em você” ou nas palavras de Helio Cunha “Eu amo o que você é por causa de Cristo.”, ou ainda “Eu amo quem você é em Cristo”. Parece-me razoável pensar assim, mesmo porque o amor de Cristo conforme me foi revelado, veio a mim como presente imerecido. Não era digno do seu amor, mas seu amor me torna digno. E ele em mim é o que me torna amável. O que há de melhor em mim é Cristo. Por isso, “Eu amo Cristo em você e amo quem você é em Cristo.”
Creio que este é o ponto de partida para podermos dizer “Te amo através de Cristo” e quem sabe um dia “Te amo como Cristo te ama”.
Mas calma! Um desafio de cada vez.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O melhor jeito de morrer...


Achei esse testemunho de um executor nazista a respeito do pastor alemão Dietrich Bonhoeffer, e achei que vale a pena compartilhar.

Na manhã do dia 6 de abril de 1945, entre as 5 e as 6 horas, os prisioneiros [...] foram retirados de suas células e o julgamento do tribunal de guerra lhes foi comunicado. Pela porta entreaberta de um quarto, no acampamento, eu vi, antes que os condenados fossem despidos, o pastor Bonhoeffer de joelhos diante de seu Deus em uma intensa oração. A maneira perfeitamente submissa e certa de ser atendida com que esse homem extraordinariamente simpático orava me emocionou profundamente. No local da execução, ele orou novamente e depois subiu corajosamente os degraus do patíbulo. A sua morte ocorreu em alguns segundos. Em cinqüenta anos de prática, jamais vi um homem morrer tão completamente nas mãos de Deus.

[Testemunho do médico do campo de concentração nazista Flossenburg, citado em D. Rance. Un siècle de temóins. Paris: Fayard-Le Sarment, 2000]
fonte:www.galilea.com.br
 

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