sábado, 13 de outubro de 2007

Produzindo Ateus

Tenho o hábito de observar a lista dos livros mais vendidos no mercado secular que são divulgadas nas revistas semanais em nosso país. Creio que essa é uma boa forma de compreender quais são os interesses do público em geral e nos permite fazer uma leitura interessante, ainda que superficial, do espírito de nossa época. Recentemente observei que o livro que se destacava na lista, permanecendo no topo como o centro das atenções do mercado literário em nossa nação foi o livro de Richard Dawkins, biólogo norte-americano, intitulado “Deus – um delírio”. Pareceu-me bastante curioso, o fato de um livro escrito pelo maior defensor do ateísmo mundial se consolidar como o interesse principal durante mais de quatro semanas consecutivas em um país que é considerado o maior país católico do mundo e um lugar onde mais de 95% da população reconhece a existência de Deus, ainda que não se relacione com ele. Então fui conferir. Entrei em um livraria e fui ler o livro de Dawkins. Comecei pelo prefácio, que sendo feito já na reedição do livro, continha uma série de refutações à diversas categorias de críticas recebidas pelo autor. As críticas vinham de todos os lados. Teólogos, ex-ateus e até mesmo ateus. Não me lembro com exatidão das palavras, mas a crítica que realmente chamou-me a atenção foi uma crítica levantada por cristãos. O questionamento era mais ou menos esse: “Em seu livro você ataca a religião cristã, especialmente em função da teologia pregada pelos televagelistas da tv norte-americana que usam Deus como um artifício de obtenção de lucro pessoal, você nunca considerou a teologia de C.S Lewis, Dietrich Bonhoeffer e Paul Tillich, que apresenta um evangelho puro coerente e inteligente?”
Vibrei com a pergunta, e me espantei com a resposta. Dawkins contra-argumentou de forma simples e direta. As palavras foram semelhantes a essas: “Se a teologia desses homens fosse a base do pensamento cristão pós-moderno, eu não precisaria escrever esse livro.” Dawkins justifica seus escritos dizendo que a religião tem como seus expoentes máximos homens que apresentam um evangelho que nada mais é do que ferramenta de manipulação, levando ao “delírio” milhares de pessoas. Obviamente que Dawkins faz uso de várias argumentações científicas e filosóficas, que quase num tom de deboche tentam provar que Deus é uma invenção humana que expressa a covardia da raça em lidar com seus dilemas. No entanto, me chocou sua sinceridade ao dizer que nossa teologia não encontra meios de convencer e sim de iludir. Imediatamente, uma pergunta surgiu em meu coração: Estaríamos nós, igreja do século XXI, produzindo ateus? Será que nossa mensagem pós-moderna teria se contaminado a tal ponto com as influências humanistas e abordagens psicológicas, que nossas mensagem têm produzido na melhor das hipóteses, cristãos ensimesmados e na pior, ateus desiludidos? Se somos o corpo de Cristo espalhado pela terra, se somos embaixadores do Reino, se somos a prova viva da existência de Deus e da ação de Cristo no mundo, não seria nossa a culpa pelo crescente número dos sem-igreja, avessos a religião, desiludidos com pseudo-promessas, que acabam considerando Deus um delírio? A argumentação de Dawkins levou-me a ponderar sobre uma verdade contundente. Os desiludidos de hoje, podem ser os ateus de amanhã. O crescimento do ateísmo mostra nosso fracasso em convencer o mundo de que nossa mensagem pode mudar o mundo. Em meados dos anos 80, em um debate entre um comunista e um cristão defensor da pura mensagem evangélica, o comunista declarou após ter sido surpreendido pela argumentação do pastor: “Se eu tivesse conhecido o evangelho da maneira como me foi apresentada hoje, eu não seria comunista, seria cristão.” Sim, somos responsáveis. Somos responsáveis pela fama do cristianismo em nossos dias. Somos responsáveis, como refletores da glória do próprio Deus, pela imagem que o mundo tem a Seu respeito. E enquanto misturarmos o evangelho da cruz aos ingredientes adocicados e pré-digeridos da pós-modernidade, vamos continuar assistindo o mundo se desiludir, e desacreditar. A igreja não pode se tornar um grupo de terapia psicológica, não pode se tornar um centro de palestras motivacionais, não pode se tornar uma escola de organização de finanças pessoais, porque esse tipo de resposta, o mundo tem condições de oferecer e com superior profissionalismo. A igreja ainda é a responsável pela boa e transformadora Mensagem da Cruz. A mensagem do amor de Deus que vai curar desiludidos e fazer do delírio da mensagem do evangelho, o poder de Deus para salvação do perdido.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Fechar meus olhos


Fechar meus olhos, um problema
Lidar com meus pavores soturnos, meus dilemas
Perscrutar minha alma em desespero
Ameaçado pelo minuto derradeiro

Fechar meus olhos, oração
Ajoelhar sobre minhas angustias em devoção
Clamar-te para que do alto me socorras
Como herói que liberta o oprimido da masmorra

Fechar meus olhos, transformação
Deixar-me levar por ti e não mais pelo enganoso coração
Refazer-me a partir de tuas certezas
E a tudo ver com mais clareza

Fechar meus olhos, alegria
Ver um pouco mais de ti em mim a cada dia
Liberto de mim mesmo e do pavor
Abraçado pela benção e pelo amor

E abrir os olhos, finalmente
Acordar e viver a vida alegremente
Olhar no espelho e confiante celebrar
A linda marca que tua graça deixou ao me beijar
 

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